Pinos em dentes anteriores: dificuldade de centralização

pinos em dentes anteriores

A indicação de pinos em dentes anteriores está relacionada a necessidade de retenção intrarradicular ou reforço do remanescente coronário. Dentre as diferentes opções, os pinos de fibra representam a melhor, pois ao contrário dos pinos/núcleos metálicos e cerâmicos, esses pinos, independentemente do tipo de fibra, apresentam módulo de elasticidade próximo ao da dentina. Com isso, temos uma distribuição mais uniforme das tensões provenientes dos esforços mastigatórios para o remanescente dental, de forma que fraturas radiculares não são relatadas.

Ainda como vantagens, os pinos de fibra podem ser utilizados em sessão única, possibilitam preparos mais conservadores e apresentam coloração compatível com os tecidos dentais. Apesar de todos os benefícios, em dentes ântero-superiores existe uma tendência do preparo para o pino ser direcionado para a face palatina, especialmente em função do tratamento endodôntico, dificultando a centralização do pino. Com o pino palatinizado, temos uma redução do espaço para o material restaurador na face palatina, o que pode inviabilizar o seu uso quando indicada uma coroa total. Neste post, vamos discutir estratégias para centralizar os pinos de fibra e, também, preservar o remanescente coronário nos dentes ântero-superiores.

Importância da centralização dos pinos de fibra

Para a cimentação de pinos em dentes anteriores superiores, é necessário que os mesmos estejam centralizados após o preparo do canal radicular. Este posicionamento central do pino tem como objetivo possibilitar um volume adequado de material restaurador na face palatina. Isso deve ser respeitado, especialmente quando indicadas coroas, o que é exemplificado na figura abaixo.

pinos em dentes anteriores

Entretanto, se o pino estiver palatinizado, como na imagem inferior, teremos interferências nos movimentos dos dentes ântero-inferiores durante a excursão protrusiva ou em máxima intercuspidacão habitual. Em alguns casos, isso torna necessário um desgaste significativo do pino, o que poderá comprometer a sua função, dificultando a sua indicação. O problema é ainda maior em pacientes com sobremordida exagerada e/ou retroinclinação dos incisivos superiores. Vale ressaltar que os caninos superiores, por apresenterem um maior volume palatino, sofrem menos com este problema.

pinos de fibra

A Endodontia e o posicionamento dos pinos

Esse posicionamento palatino do pino pode estar relacionado à Endodontia. Normalmente, durante o tratamento endodôntico as diferentes técnicas preveem um desgaste compensatório na entrada do canal, removendo o ombro cervical para melhorar o acesso. Somado a isso, o esmalte palatino da borda incisal tende a dificultar a ação dos instrumentos e a centralização do preparo endodôntico.

Podemos compreender melhor essas duas situações através da imagem abaixo. Na primeira figura, a seta sinaliza para o ombro cervical e, na segunda figura, para o esmalte palatino da borda incisal.

O posicionamento palatino do preparo nos dentes ântero-superiores compromete o remanescente coronário palatino, que é o melhor remanescente para o prognóstico protético.
pinos de fibra

A imagem abaixo ilustra como essa falta de remanescente coronário palatino pode aumentar o risco de deslocamento das coroas protéticas. 

Como centralizar os pinos em dentes anteriores

Elaboramos esse esquema didático para ilustrar algumas sugestões clínicas para a abertura endodôntica e assim, demonstrar os conceitos discutidos neste post.

O primeiro cuidado é eleger um ponto para o acesso endodôntico. Este ponto deve ser o mais longe possível do cíngulo, o que permite a preservação do remanescente palatino, além de favorecer a centralização do pino. É muito importante não desgastar desnecessariamente a parede vestibular da câmara pulpar, pois isso evita alterações estéticas e, também, a fragilização do dente.

O outro cuidado que devemos ter é com o desgaste no ombro palatino. Este desgaste precisa ser o mais conservador possível para evitar um direcionamento palatino do preparo endodôntico, novamente com o intuito de centralizar o pino e não prejudicar o remanescente palatino.

Sugerimos que você veja o vídeo abaixo que mostra como a abertura endodôntica pode escurecer a coroa dental.

Em casos com indicação de faceta e face palatina íntegra, podemos inclusive pensar em um acesso endodôntico por vestibular, preservando toda a face palatina. Discutiremos esse tema em outro post.

Ainda pensando em preservar os tecidos dentais, na remoção do teto da câmara pulpar devemos eliminar os restos necróticos sem desgastar excessivamente esse teto, pois qualquer remoção de dentina pode fragilizar e acinzentar o dente. Esta remoção pode ser realizada com pontas ultra-sônicas curvas ou até mesmo com brocas esféricas em baixa rotação.

E por fim, em casos que vamos manter a coroa dental e queremos reforça-lá, podemos fazer uma canaleta inciso-palatina de forma conservadora com uma broca cilíndrica ou tronco-cônica em alta rotação, conforme o esquema abaixo. Esta ação permite um melhor acesso dos instrumentos ao canal radicular, favorecendo a centralização do pino.

pino

Elaboramos este vídeo abaixo para ilustrar a importância do conhecimento restaurador para o tratamento endodôntico de dentes anteriores.

Para a reflexão

O endodontista deve conhecer o tipo de restauração que será realizada e, inclusive, discutí-la com o protesista ou com o clínico responsável, pois a análise do remanescente antes e durante o tratamento endodôntico é fundamental. Por exemplo: diante da indicação de uma coroa protética, a redução incisal antes do tratamento endodôntico possibilita a centralização do pino e preserva o remanescente coronário palatino.

Assim, apresentamos neste post a importância do diagnóstico, planejamento e tratamento integrado para a restauração de dentes com indicação endodôntica, o que deve aproximar cada vez mais as especialidades.

Escrito por Leonardo Muniz

17 de maio de 2020

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14 Comentários

  1. Joamylly Cordeiro

    É uma honra aprender a cada dia com vc Prof. Leonardo Muniz! Suas aulas são enriquecedoras! Gratidão!

    Responder
    • Leonardo Muniz Odonto

      Maravilha, Joamylly! Obrigado pelo elogio e espero que você continue nos acompanhando!
      Um grande abraço.

      Responder
  2. Lana Caroline Costa da Silva Cavalcante

    Post muito bom!!

    Responder
    • Leonardo Muniz Odonto

      Obrigado pelo elogio, Lana! Esse retorno é muito importante para nós! Qualquer sugestão ou crítica será muito bem recebida!
      Forte abraço.

      Responder
  3. Cássia Pereira

    Ideia maravilhosa, não conhecia. Já tive que mudar meu planejamento por esse motivo. Valeu mesmo!!!

    Responder
    • Leonardo Muniz Odonto

      Pronto! Agora já sabe o que fazer! Obrigado por prestigiar nosso trabalho, Cássia! Abraço

      Responder
  4. Patrícia Gabriella Marques

    Estou com um caso clinico onde não encontro espaço. Agora já sei como resolver meu problema. Vou centralizar o pino! Perfeito!
    Adorei a técnica!
    Obrigada!

    Responder
    • Leonardo Muniz Odonto

      Exato, Patrícia! Que bom ter ajudado! Muito obrigado por ler e comentar!
      Abraço.

      Responder
  5. Cláudia Vilas Boas

    Excelente explicação.

    Responder
      • CARLOS ROCHA

        Post muito esclarecedor de pinos em dentes Anteriores. Parabéns!!!!!

        Responder
        • Leonardo Muniz Odonto

          Obrigado, meu amigo! Forte abraço.

          Responder
        • Mônica Rozas

          Que aula maravilhosa!

          Responder
          • Leonardo Muniz Odonto

            Obrigado, Moniquinha!
            Continue nos acompanhando!
            Um forte abraço.

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